Poema tipo fichário de informações

só o sonho salva

 

Sou um pouco de tudo,
um pouco de nada.
Tenho asas, guelras,
terras e constelações.

Se já amei?
Mil vezes amei.
Mil vezes desamei.

Sei que ando pelas ruas
como todos andam pelas ruas.
Sei que tenho náuseas e espanto.

Sei que tenho o adeus de todos os deuses
em todos meus sonhos sonhados.
Sei que tenho óleo boiando sujo no lago da memória,
degraus cheios de pássaros mortos,
diálogos meus barrados no limiar da hora do Encontro,
cloacas envernizadas do nada mais que o social.

Oh! como dar mãos a quem não tem mãos de dar,
não me encostem à parede todas as vezes
em que venho para ficar em silêncio,
em silêncio mesmo que isto seja difícil,

deixem-me calado na dor e no amor,
deixem a alvorada levantar
com meus olhos pregados à janela,
deixem a solidão fundir-se como chumbo
ao fogo da Vida,

deixem em paz minha desordem,
meu canto rouco,
meu viver interior,
meu delírio, meu submundo,
as águas de minha incerteza constante,

deixem em paz a ferrugem de meus planos abandonados,
o quadro negro de meu existir traçado a giz,
meu nascimento nos lugares mais doidos,
minhas presenças inesperadas,

não queiram que eu chegue a um ponto determinado
(detesto pontos mesmo os mais longínquos),

não me ensinem códigos,
não me ponham sininhos no pescoço,

eu quero ter a certeza de ser livre.

 

Lindolf Bell

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

7 + 1 =