Talvez emo

coração em chamas

 

tenho o sol no coração mas só costumo mostrar a face da lua.
acho que morri mesmo aquela noite que passou.

não sei porque mas choro e me emociono e nem sou emo.
se eu fosse homem talvez fosse como O Idiota.
mas sou mulher e tenho instinto de mulher e praticidade de mulher e sinto a terra sob os meus pés.
no meu ventre.

e não sei falar o que acho que deve ser dito. talvez escrever.
quase só sei chorar sozinha. e sou tímida e me sinto observada no mundo.

por fora, contemplação; por dentro, um turbilhão.
o turbilhão é a outra face da contemplação?

é impossível ser feliz sozinho?
mas no fundo no fundo não tá todo mundo sozinho?
apesar de junto?

do que todo mundo tem mais medo? da morte ou da solidão?
as duas certezas da vida.

tão sensível e tão insensível.
a sensibilidade é tão relativa.
tantas coisas desse mundo que não me comovem.
e tantas coisas talvez pequenas mas tão grandes,
tão grandes que impalpáveis – simbólicas, matizes –
que me acertam em cheio.
de dentro pra fora.

não sei fazer cara de paisagem. tudo está na cara.

insisto em supor que existo. eu sinto.
por que pra onde como pra que. não sei.
sinto e existo. e vou.

Michele Torinelli, abril de 2012

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

7 + 6 =